sexta-feira, 4 de julho de 2008

Um desabafo

Talvez tudo que estará escrito não passe de bobagens para alguns que leiam... E olha que chegar ao ponto de conseguir escrever, já foi um grande avanço pra quem não conseguia falar. Acredito que, às vezes, colocar para fora faça bem. Bom, às vezes... Mas levaremos em consideração que me fará muito melhor. E aqui estou eu, sentada nessa cadeira, tentando explicar o misto de coisas que se passam na minha cabeça... E devo assumir que quando lembro do dia 2 de julho de 2008, volto a chorar.
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Falando em choro, acredito que nunca havia sentido tantos sentimentos diferenciados em um tempo tão curto... Antes mesmo de a bola rolar, as lágrimas que caíram, sem que eu pudesse evitar, foram as de emoção: um Maracanã lotado por 86 mil pessoas que não paravam de cantar “Fluminense eterno amor”, centenas de bandeiras que balançavam insistentemente e um céu iluminado por fogos de artifício – uma festa incomparável, sejamos sinceros. Depois, o choro, não contido, da tristeza por ver aquele sonho mais distante, em apenas 5 minutos de partida. Mas fui forte, e até o segundo tempo o choro era de alegria em ter a esperança de volta, nos pés de apenas um jogador. Depois de 120 minutos, aquelas lágrimas que caíram foram as de medo e angústia, de talvez não ter coragem de continuar ali... Mas já estava, e dali não poderia sair, rezei para qualquer coisa – confesso, não sei bem o que minha cabeça dizia naqueles poucos minutos sentada -, levantei e tentei buscar forças para cantar e para ficar de pé mais alguns instantes. No fim, aquelas mais temidas lágrimas, aquelas que eu não queria acreditar que pudessem cair: as de decepção, derrota e desespero. Esses 3 “d” fizeram minha noite terminar do modo contrário que eu desejava.

O mais difícil foi levantar a cabeça, seguir em frente e encarar o mundo fora do Maracanã. “Eu não consigo, pai”, falei desesperada. Até que veio um homem e disse “Menina, não fica assim. Não esquece que temos um campeonato inteiro pela frente. Isso não é o fim”, mas naquele momento parecia. Porém, acredito que aquelas palavras me fizeram levantar. E no meio daquele caminho interminável entre a arquibancada e a rua, ouve-se um grito “Cuidado!”, era briga e não tinha como fugir. Meu choro aumentou, me apoiei na parede, não aguentei e ali desabei. Com a ajuda dos braços do meu pai, e de alguns que nos acompanhavam, me acalmei e consegui, finalmente, sair. Mas, a imagem que mais me vem à cabeça é a daquele mar de torcedores, até então confiantes, em um silêncio coletivo. Lógico, não havia o que ser dito. E até agora não sei se há, pois a ficha ainda não caiu, e meu tempo parou no jogo. Acordar, ter que aceitar e calar-se diante de perguntas sem respostas...

Antes que qualquer um venha com piadinhas ou zoações, devo dizer que podem falar, mas nada irá me abalar mais do que já estou, ou estava. Exagero? Não pra mim... Sem querer copiar Renato em suas declarações, mas só chorei duas vezes da maneira que chorei ontem e anteontem: morte da minha avó e outra – que prefiro não revelar. Além do mais, acho que respeito é algo que todos devem ter. Brincadeiras têm limites.

Não irei comentar o jogo, atuações dos jogadores ou erros da arbitragem. O que desejo aqui é, realmente, desabafar. Ouvi coisas que me fizeram pensar que tenho um amor, por esse clube, maior do que eu mesma imaginava. E, como diz a música, “Mas a certeza é que eu nunca vou te abandonar. Eu canto Nense quando o tive vai bem, eu canto Nense quando o time vai mal”, e assim posso garantir que não foi esse jogo que diminuiu tamanho sentimento. O Fluminense chegou aonde chegou com garra, paixão e sabedoria. O Fluminense reverteu vantagens que pareciam impossiveis, sobre times considerados superiores. Em momento algum terei coragem de vaiar, culpar jogadores ou criticar o técnico.

Sabe, doeu a derrota porque a torcida não merecia, não da maneira como foi vencida. Ficar sete horas na fila do ingresso, gastar tudo que gastei pelo mesmo, estar presente em todos os jogos da Libertadores e sofrer em cada bola que não entrava... E com muitos outros torcedores foi semelhante. Obviamente, alguns rivais poderão dizer “Bem feito para o Renato Gaúcho”... Sou obrigada a concordar que muitas de suas palavras foram absurdas, mas o que ouvimos também nos ofendeu, de certa forma:

“O Fluminense não tem tradição”
“Fluminense? Não conheço”
“Só Flamengo e São Paulo são capazes de vencer o Boca Juniors”
“O Fluminense ganhou por sorte”
“O grupo do Fluminense era o mais fácil”
“O Fluminense não passa das Oitavas de final”

Acho que hoje todos são obrigados a concordar que o time sem tradição, com sorte, sem capacidade e do grupo mais fácil, não errou ao dizer: “Prazer, Fluminense”, pois não só passou das Oitavas de final, como chegou com dignidade a essa final. Assim como não me arrependo de ter passado 120 minutos gritando “Eu acredito” e de ter chorado tudo que já chorei pelo time. Obrigada, Fluminense, por ter me causado sentimentos de alegria e emoção, até então desconhecidos. LDU? Parabéns pelo título inédito. Quanto ao meu desabafo? É, me fez bem... E mesmo não conseguindo acreditar, já me conformei que devo levantar a cabeça e que a vida é feita de alegrias e tristezas, ganhos e perdas e, principalmente: as verdadeiras paixões são acompanhadas pelo sofrimento.
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Não há maneira mais correta de terminar o texto se não dizendo: “É voz que não se cala”, pois o “Abram-alas tricolor” jamais vai parar e, enquanto existirem o verde, o branco e o grená, ninguém será capaz de calar a nossa voz. E o orgulho? Esse sempre existirá.

3 comentários:

Bernardo de Vasconcellos Edler disse...

Mesmo sendo Flamenguista, lamentei a derrota do Fluminense. Apesar de Thiago Neves e Renato Gaúcho serem, na minha opinião, dois merdas, o Fluminense teve a minha torcida na final. Uma pena, pelo jogo e por todos que sofreram como você.
Belo texto.

Beijãão

Anônimo disse...

"O Fluminense independe de conquistas, o Fluminense está entre o ser e o devir, o Fluminense é o ser. É Fluminense e basta". - Sidney Garambone, jornalista

"Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos" - Nelson Rodrigues

Eu como tricolor, digo-lhe que ao ler seu texto, lembrei de todos os momentos do jogo, de como torci, acreditei, rezei, comemorei, todavia lembrei-me também infelizmente, do vazio ao ver o último pênalti, um vazio inexplicável, imensurável.
Mas o que me conforta, é lembrar de todos os jogos que fui, dos amigos e colegas fazendo brincadeiras e desacreditando o Fluminense, e após o jogo, a cara deles ao saber o resultado.
Mas, como sou tricolor, e dentro do meu coração tenho o verde da esperança, acredito fervorosamente que não demoraremos nada a voltar à Libertadores, e dessa vez, colocaremos uma plaquinha na taça com o nosso escudo.
e não tem forma melhor de concluir dizendo:
"Orgulho de ser tricolor!"

Anônimo disse...

Belo texto amiga.
Realmente mostra o que todos os tricolores sentiram ou vivenciaram com essa derrota.
Uma mistura de sentimentos e emoçoes que nem um torcedor vai conseguir esquecer.

Beijos Tricolores =)