segunda-feira, 28 de julho de 2008

A importância de ser artista

"No teatro descobri que existem duas realidades, mas a do palco é muito mais real." (Arthur Miller)

Essa frase faz uma boa introdução do que irei tratar aqui. Diferentemente dos meus textos anteriores, esse será bem mais sentimental, como um momento de saudade que pretendo compartilhar, sem deixar de expor minha opinião, lógico. Devo dizer, primeiramente, que qualquer tipo de arte é válido. Acredito que aqueles que não a praticam, vivem com menos emoção. Digo isso porque tenho certeza que a arte, em todas as suas formas, realça a sensibilidade que há em cada um de nós, e tolos são aqueles que não a conhecem.

Entretanto, estou aqui para falar exclusivamente do teatro – e quem me conhece sabe o quanto esse veículo tem importância para mim -, e me perdoem as outras artes, mas essa é a mais bela. Antes de qualquer coisa, é interessante falar um pouco sobre a história do teatro. Acredita-se que o mesmo surgiu na Grécia Antiga como, apenas, festas e manifestações de agradecimento, e não da forma que vemos hoje. Com o tempo, começaram a haver mudanças e maiores elaborações nas manifestações, e aos poucos foram se tornando apresentações dirigidas. No Brasil, o teatro surgiu no século dezesseis, mais pelas questões religiosas mesmo. A partir daí, houve bastante crescimento, até o momento da Ditadura. Sim, porque com o regime militar, como todos sabem, houve a censura e a repressão aos artistas. Após esse momento de retrocesso, o teatro veio a progredir cada vez mais, até se tornar o que é nos dias atuais. Hoje, podemos observar grande quantidade de cursos, centros culturais e grandes teatros – nesse caso, o teatro como espaço físico.

Após essa longa introdução, posso expor o que, realmente, desejo. Voltando à frase inicial, quando coloco maior veracidade na realidade teatral, é importante ressaltar que, quando se está no palco, descobre-se mais de você do que antes conhecia. É difícil entender quando nunca se pisou em um, mas prometo tentar explicar. Há quem diga que nele tudo se transforma, que é mágico e, acima de tudo, sagrado. Prefiro acreditar que é um lugar onde os sentimentos florescem. Eu gosto de dizer que o ator transborda emoções e é, justamente, no palco que ele as libera e faz com que o público sinta aquilo que deseja transmitir. Uma pessoa só passa a se conhecer, de verdade, depois que atua. Dentro de um personagem, descobrimos defeitos, manias e qualidades que antes não sabíamos que existiam. Além disso, por experiência própria, posso garantir que pode-se estar passando por um problema muito sério, mas o fato de estar em contato com o ambiente teatral modifica tudo, e faz uma espécie de armadura para a entrada de tensões.

Acredito que muitos podem achar exagero, ou palavras melosas demais para serem levadas na ponta da lingua. Mas o artista é desse jeito, certo? Ele é mais sentimental que qualquer outro ser humano comum, e para o ator é ainda mais sério. Sim, porque assim como nas peças, tudo na vida é exagerado. As emoções são maiores que o normal, as dores, a alegria, o amor... Essa última palavra então, nem se fala. O ator ama com uma intensidade inexplicável, e, dessa forma, sofre mais também. Por isso, digo que não é fácil ser um dos nossos, não por ser difícil construir um personagem, mas pela complicação que é descobrir-se e conhecer a si próprio.

Enquanto escrevo esse texto, parece que um filme passa na minha cabeça, e como uma boa atriz que sou, sinto um aperto no peito e certa vontade de chorar. Faz uma falta incrível aquele lugar, o palco, as peças, os bastidores e os camarins lotados de figurino. Até das horas de ensaios disgastantes sinto saudade... Mas, principalmente, o frio na barriga antes de uma peça, o medo de errar e os aplausos no final. Vivi muito tempo e boa parte dos meus dias no teatro, e hoje vejo o quanto me fez crescer. Aprendi a ser eu mesma e a enfrentar os problemas que a vida propõe. Sabe por quê? Porque no palco meus personagens sofreram muito e não deixaram de ser felizes no final. Já fui prostituta, mãe e filha... Já tive que trabalhar menor de idade e ser orfã... Já fui leoa do Rei Leão, anão da Branca de Neve e bule da Bela e a Fera. Já fui boa e já fui má. Chorei em cena, e ri quando não devia. Fiz o público se arrepiar e, também, dar gargalhadas. Depois de todas essas experiências, vejo que amadureci, e posso ser mais do que um mero personagem na vida real.

De fato, esse parágrafo acima foi inteiramente nostalgico e sentimental. Agora que coloquei meus pés na realidade, posso abrir minha opinião para vocês, caros leitores. E para não acharem que sou totalmente parcial, falarei sobre outras artes agora, também. Acho que o mais importante de tudo isso é cada um acreditar que é capaz. Sim, porque antes de mergulhar em qualquer arte, é preciso crer em si próprio. Não importa se é ator – sendo de teatro, cinema ou televisão –, pintor, músico, dançarino ou cantor... O que interessa, de verdade, é ser artista. É um dom dado a todos os seres humanos, basta, somente, encontrar onde se encaixa. Porque o mais bonito, dessa jornada pela qual passamos, é despertar sentimentos nos outros, seja de felicidade, tristeza ou mesmo aqueles que não conseguimos explicar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ta Lindo o texto amiga. Você realmente conseguiu mostrar a sensação de entrar em um palco e se descobrir através do teatro.
Continue escrevendo assim. =)

Por Rafael Coelho e Raysa Himelfarb disse...

Como nunca fiz teatro, fica difícil de comentar acerca das emoções que um ator passa ao atuar. Porém, mesmo que seja difícil para mim imaginar, é importante essa coisa de "se conhecer melhor", já li sobre isso...

Eu, como artista da bola, faço as pessoas se impressionarem com a minha habilidade, por exemplo. Craque é outra coisa...

hahaha

Beijos!

Francisco Costa disse...

Bravo! Belíssimo texto!!!
São linhas extremamente sinceras e emocionais!
A única arte que prático é a escrita. Nela viajo e mergulho fundo nas minhas loucuras, contesto valores, vivo! Sou mais vivo quando escrevo e também atuo. Sou um ator para escrever, gostei!

Obrigado pela resposta ao meu comentário. Muito atencioso de sua parte.
Você teve uma ótima idéia mesmo. Pode responder meus comentários sempre que atualizar o seu blog.
Mas você poderia escrever mais, né? rs! É que você escreve tão bem, amarra bem os assuntos e no fim dos post, sempre fica uma vontade de mais! Deve ser bom conversar com você, sortudos são os que podem...

Uma grande semana pra ti!

Te cuida!

Anônimo disse...

só porque a menina, queria tirar foto só com você neh? xD
Mto bom o texto menina, mto bom msm.
;***

Anônimo disse...

Caramba, veterena!! Fiquei arrepiada - mais de uma vez - lendo o seu texto. Muito bom mesmo. Tem um texto do Teatro Mágico (banda paulista) que combina um pouco com o que você escreveu. Então, segue um trecho dele, e, se vc quiser, dá uma olhada.
Beijos e parabéns pelo "trabalho"! Hahahaha

(...) "Nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada de viver a vida... De sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias, o teatro nosso de cada dia."